Umas das coisas que deixa mais desestimulada é dar uma aula e perceber que meus alunos, ou parte deles, não presta a menor atenção. A aula expositiva ou prática deveria ser utilizada como ferramenta para aprendizado, uma maneira de otimizar as 2 horas que ficamos juntos para aprender e tirar dúvidas a respeito do assunto e isso servirá de estudo para avaliação, seja ela qual for.
Mas o que mais vemos é uma dispersão, conversa, saídas a todo momento pra atender celular, conversar lá fora, passar o tempo, que pra eles parece ser um martírio. Isso é um erro/problema do professor ou do aluno? Quem não está passando o conteúdo de maneira que prenda a atenção do aluno ou o aluno não gosta do assunto e/ou não sente o menor interesse em aprender aquilo? Sempre digo que biólogo é um ser generalista. Estuda a vida, seja qual for o emprego que ele terá quando portar o diploma e estiver "apto" para exercer a profissão. A falta de vontade em aprender infelizmente já é uma seleção natural para o emprego que ele terá no futuro.
Segue um texto bem interessante sobre isso de Ronca e Escobar:
Adaptação
ao grau de desenvolvimento do aluno
Para que uma aula expositiva seja eficiente, é de
fundamental importância que o professor conheça o grau de desenvolvimento do
aluno. Isso porque, em cada grau de desenvolvimento, a criança possui um
conjunto de representações, conceitos e operações de pensamento que influenciam
decisivamente o seu comportamento.
Do conhecimento das linhas
gerais de desenvolvimento do ser humano, uma série de orientações pode ser
extraída para nortear a prática do professor em sala de aula.
Manter a atenção
Por
mais bem preparada que tenha sido a aula, tudo será inútil, se a atenção não
for mantida.
Algumas técnicas podem ser
mencionadas para ajudar o professor neste sentido...
Variação do estímulo
Segundo Gage (1975) os estudantes se cansam
quando não há variação no tom de voz, nos movimentos, nos gestos, na estrutura
gramatical, nos padrões de fala do professor.
Mudança dos canais de comunicação
Uma forma de variação de estímulo
disponível ao expositor é o uso de slides,
gráficos, filmes, quadro-negro, retroprojetor e outros meios audiovisuais para
complementar sua apresentação. Mudando o canal de comunicação de oral para
visual, mesmo momentaneamente, o professor causa mudanças nos padrões de
respostas ocultas e nos mecanismos de atenção dos estudantes.
Mostrar entusiasmo
Os professores, há muito, têm sido
solicitados a comunicar entusiasmo em relação ao conteúdo da aula expositiva.
(Gage, 1975)
Um outro excelente estudo foi
conduzido por Ware (1974), que trabalhou com a variável sedução-expressividade.
Um expositor de alta sedução-expressividade deve apresentar as seguintes
características...
§
enfatiza material que considera importante e faz
isso porque está interessado no aprendizado dos estudantes;
§
sente-se responsável se os estudantes acabam
conhecendo ou não o material;
§
sente que é seu trabalho manter a atenção dos
estudantes;
§
está interessado em outros possíveis efeitos que
sua atuação tenha sobre os estudantes;
§
deseja que os alunos desenvolvam interesse e apreciação
pela matéria;
§
usa humor e tenta dar exemplos tão solicitadores de
atenção quanto possa;
§
deseja que seus estudantes se voltem para sua
matéria. Quando ensina, sente que tem uma oportunidade de estimular o
interesse, o pensamento e o entusiasmo dos
estudantes voltados para o conteúdo estudado, tendo em vista os objetivos dos
próprios alunos.
Nesse experimento realizado por
Ware, os alunos cujos professores apresentavam essas características não só
aprenderam mais, como o seu nível de satisfação era muito maior do que aqueles
alunos cujos professores não apresentaram essas características.
O uso de marcadores de importância
De acordo com Gage (1975), os elementos
constitutivos de um conteúdo não têm a mesma importância. Para chamar a atenção
do aluno para o que é mais importante, o professor pode usar marcadores
de importância. Esses marcadores mostram aos
estudantes o que eles devem aprender especialmente bem. Eles agem como
estímulos, informando ao aprendiz que deve prestar atenção.
As dicas que provocam essas respostas consistem em
palavras ou frases que se referem explicitamente à importância. Por exemplo: Agora
note isto...; É especialmente importante compreender que...; Ajudará
muito a compreender isto se você lembrar que...; Agora me deixe voltar
ao que talvez seja o ponto mais importante de todos, a saber...
O uso de exemplos
Uma das estratégias mais eficazes para
ajudar a manter a atenção de uma classe é a utilização de exemplos.
O exemplo colabora decisivamente
para concretizar as idéias, ajudando, assim, a captar e a fixar a mensagem.
Quanto mais próximo o exemplo
estiver da realidade do aluno, maior a sua probabilidade de manter a atenção.
Sentir a classe
Uma das
características que o professor deve desenvolver para dominar bem a técnica da
aula expositiva é a sua capacidade de perceber a reação dos alunos.
Quando uma exposição é bem
feita, o aluno participa ativamente e essa participação se processa de
diferentes maneiras: o aluno procura compreender os conceitos apresentados,
relaciona o conteúdo exposto com o que ele já sabe, procura perceber o
significado das palavras e dos gestos etc.
Um outro indicador excelente é o
olhar dos alunos, que é sintomático revelador de uma atitude interior de
concentração mental. Nesse sentido, é muito bom o professor se acostumar a
olhar de frente para os alunos e, em determinadas vezes, concentrando o seu
olhar, por alguns segundos, nos olhos de diferentes alunos. Isso faz com que os
alunos sintam uma atenção especial por parte do professor.
Um outro fator que pode fornecer
muitos dados ao professor é o processo de avaliação. Sem dúvida, é um bom sinal
o fato de os alunos se referirem, nas provas, nos trabalhos ou em relatórios, a
informações que lhe foram transmitidas pelo professor em aulas expositivas.
Solicitar a colaboração da
classe
Uma série de estratégias pode
ser utilizada para permitir uma maior participação dos alunos: exposição
dialogada, discussões dirigidas etc.
Somente uma forma é aqui
excluída: a exposição pura, o ensino ex-cathedra. Este não permite ao professor
conhecer a mente do aluno e é, em geral, sabido que, nas escolas onde é
empregado com exclusividade, o mais das vezes fala-se sem o mínimo resultado.
(Aebli, 1975, p. 45)
Examinemos algumas estratégias propostas
por Hans Aebli (1975) que podem levar a uma maior participação do aluno na aula
expositiva...
a) Explorar pontos obscuros –
Quando o professor percebe que alguns pontos da sua exposição estão obscuros,
pode deixar que os próprios alunos tentem esclarecer a situação. Perguntas bem
dirigidas poderão orientar o processo de reflexão.
b) Prever o desenvolvimento
posterior – A classe pode apresentar conjecturas sobre a continuação de uma
explicação. A partir de um ponto conhecido, a classe pode tentar concluir os
acontecimentos ou as fases do desenvolvimento que se seguem.
c) Solicitar exemplos – Uma das formas mais eficientes de
prender a atenção é solicitar exemplos que possam ilustrar o que foi exposto
pelo professor.
d) Dramatizar – Uma das maneiras mais fáceis para atrair
os alunos à participação consiste em dramatizar o assunto em pequenas cenas
mais ou menos improvisadas. A dramatização tem o grande mérito de permitir que
o professor saiba se a classe compreendeu bem o assunto que foi exposto.
Uso adequado da aula expositiva
Alguns princípios de natureza
pedagógica podem auxiliar o professor a determinar quando usar a técnica
expositiva.
Assim, o uso da exposição é
adequado...
§
quando o objetivo básico é disseminar informação;
§
quando o assunto deve ser organizado e apresentado
de uma forma particular a um grupo específico;
§
para despertar o interesse em relação ao assunto;
§
para introduzir os alunos em tarefas de
aprendizagem que terão prosseguimento com outros métodos de ensino;
§
para apresentar conceitos e princípios fundamentais
que serão trabalhados no decurso de uma unidade;
§
para sintetizar ou concluir alguma unidade ou mesmo
algum curso.
Fonte
RONCA, Antônio Carlos Caruso;
ESCOBAR, Virgínia Ferreira. Adaptação ao grau de desenvolvimento do aluno.
In:______. Técnicas pedagógicas:
domesticação ou desafio à participação? 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1986. p.
99-106.
0 comentários:
Postar um comentário