O que penso em criar com este blog, além de toda discussão voltada para área da botânica é também, de tempos em tempos, focar uma discussão acerca do papel do professor, da universidade e o processo ensino-aprendizagem, principalmente o que é hoje vivenciado nas instituições públicas.
Ultimamente tenho lido muitos textos a respeito do assunto e não penso em mudar a abordagem nem do título do blog, mas como o papel do cidadão, que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão dentro da universidade, mesmo sendo voltada à aplicação da botânica, inevitavelmente tenho que perpassar por esses assuntos e até criar uma pequena discussão online (o que seria ideal).
Hoje li um texto que fala de uma reportagem do dr Marco Silva, para o Correio da Bahia, texto este escrito pela Monica celestino e que aborda aspectos interessantes. Fala também da publicação de um livro: Sala de aula interativa, que já aguçou minha curiosidade para folear suas páginas e entender suas entrelinhas.
Pra quem quiser saber mais a respeito, segue o texto:
Pingue-Pongue – O professor deve ser aquele que
instiga
Não é preciso contar com engenhocas tecnológicas em sala
de aula para formar cidadãos do novo milênio. Até debaixo de uma árvore, sem
quadro negro ou carteiras, o professor troca a transmissão de informações pelo
papel de provocador no processo de construção de conhecimento pelo alunado. Não
é uma proposta mágica, mas tem dado certo, conforme Marco Silva, sociólogo e
doutor em educação pela Universidade de São Paulo entrevistado pelo Correio da
Bahia. Autor do livro Sala de aula interativa (Rio de Janeiro: Editora
Quartet), com segunda edição lançada no mês passado em Salvador, o professor
diz que não basta universalizar o acesso à escola para solucionar o problema da
educação no país, critica a progressão continuada e avaliações como o
vestibular e diz que o professorado não está preparado para esta nova escola.
Leia a seguir o resultado de duas horas de bate-papo.
Correio da Bahia - O senhor acaba de lançar a segunda
edição do livro Sala de aula interativa, em Salvador. O que o
senhor chama de sala interativa?
Marco Silva - É aquela que foge ao modelo que, segundo
Pierre Lévy - o filósofo da internet -, funciona há cinco mil anos centrado no
mesmo paradigma da transmissão no falar, no ditar do mestre. Mesmo com
televisor ou computador, o professor adota sempre o paradigma da transmissão. A
sala de aula que proponho é aquela onde o professor, o aluno, as tecnologias,
os conteúdos estarão todos em movimento interativo. Nela, não existe mais a
transmissão fechada, de conteúdo fechado, de livro didático fechado. Convoca-se
o aluno para criar conhecimento.
CB - Então, a proposta do senhor utiliza o pilar do
famoso construtivismo - a construção do conhecimento pelo aluno?
MS - A sala de aula interativa vai além disso porque,
enquanto o construtivismo não investe numa teoria da comunicação, a
interatividade proposta por mim é necessariamente teoria da comunicação. O
construtivismo propõe um salto de qualidade, mas peca porque não tem
investimento em
comunicação. Venho trazer esse investimento.
CB - Qual o papel do professor neste cenário?
MS - Ele é o provocador, arquiteto de percurso,
proponente de uma idéia ou provocação. O professor deve ser aquele que instiga
à comunicação e ao conhecimento, deve ser diferente daquele que a gente conhece
como vítima dele (que transmite informações, reproduz o discurso dos livros). O
aluno de uma sala de aula interativa lança mão das informações disponibilizadas
para criar o próprio conhecimento.
CB - A gente ainda não tem um aluno formado por este
novo modelo. Qual será a vantagem do estudante submetido a esta proposta
interativa, em relação aos demais?
MS - Desde o século XVIII, se diz que a escola é local
privilegiado para formar cidadão. No entanto, neste antigo modelo, a
transmissão já pressupõe o estudante passivo. Há uma contradição enorme. Como
eu vou formar um sujeito ativo, comunicativo, participativo, que fala e se
posiciona, se ele é um aluno travado numa carteira e com um professor que tem a
fala e distribui a informação? A sala de aula interativa é como um site. A sala
de aula tradicional e a TV utilizam o mesmo paradigma de transmissão de
informação para a massa. A TV é um espaço de transmissão, enquanto o site
permite adentramento e manipulação, pressupõe um sujeito ativo. A perspectiva
da interatividade está muito mais próximo da formação do cidadão, do sujeito
ativo, capaz de falar.
CB - Todos os conteúdos podem ser trabalhados nesta
nova perspectiva?
MS - Sem exceção. Já há professores em Salvador que ensinam
matemática e não ficam simplesmente ditando fórmulas. Eles provocam os alunos a
exercitar a produção de fórmulas, a chegar ao conceito com atividades práticas.
Colocam a situação e o aluno sai da cadeira dele como se a sala fosse uma
oficina de trabalho.
[...]
CB - O estudante está preparado para este novo modelo?
MS - As novas gerações já vêm se acostumando com
videogame e controle remoto há algum tempo. Chega o momento em que elas se
deparam com o mouse, numa progressão onde o sujeito se torna cada vez mais
operativo. Com o mouse, pode-se adentrar à tela. Isso tudo gera a necessidade
de uma sala de aula que possa contemplar esse sujeito ativo ou interativo. A
interatividade já convoca a articulação emissão-recepção na construção do
conhecimento e da própria comunicação.
[...]
Fonte
CELESTINO, Mônica. Pingue-Pongue: o professor deve ser aquele que
instiga. [S.l.: s.n.].
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