Claro que devemos melhorar!
Mais um texto que li, muito interessante:
O sistema de
avaliação da educação superior no Brasil
O
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) tem examinado
a situação do ensino superior no Brasil sob ópticas diferentes e
complementares. O Censo da Educação Superior, a Avaliação Institucional, a
Avaliação das Condições de Ensino e o Exame Nacional de Cursos (ENC) formam um
sistema abrangente que mostra qualitativa e quantitativamente a situação da
educação superior no País.
O
censo, realizado anualmente, faz um retrato do ensino superior a partir da
coleta de um amplo leque de informações, como número de alunos, concluintes,
cursos, instituições e docentes. A Avaliação das Condições de Ensino é
realizada quando o curso necessita do credenciamento ou da sua renovação.
Trata-se de uma verificação feita por uma comissão de professores que analisa o
curso no seu próprio local de funcionamento, considerando o corpo docente, a
infra-estrutura e o projeto didático-pedagógico.
A
Avaliação Institucional é uma verificação aos moldes das Condições de Ensino,
que leva em conta as mesmas dimensões, além de considerar também o Plano de
Desenvolvimento Institucional. É realizada cada vez que uma instituição de
ensino superior procura se credenciar e, depois disso, repetida a cada quatro
anos. Além dessas avaliações, operacionalizadas pelo Inep, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) faz ainda a avaliação
dos cursos de pós-graduação, completando assim o quadro das condições do ensino
superior no País.
O
ENC, que atribui um conceito ao curso a partir de uma prova aplicada aos
formandos, é uma parte apenas desse sistema. E, embora o exame tenha assumido
uma dimensão hipertrofiada, ele deve ser colocado em sua devida proporção:
apenas um dos vários instrumentos adotados no âmbito do Ministério da Educação
para conhecer a realidade da educação superior.
Algumas
características do ENC podem ser apontadas pela sua exacerbada repercussão. O
ENC é obrigatório, embora não corresponda a um dever cívico, nem gere direitos.
É exatamente o contrário: não fazê-lo gera punições. O resultado do exame leva
a um ordenamento dos cursos superiores, sem significar necessariamente que os
classificados entre os piores sejam ruins e os classificados entre os melhores
sejam bons. Em certas áreas do conhecimento, cursos com nota D são
perfeitamente aceitáveis e, em outras, cursos com B podem estar abaixo de
qualquer patamar aceitável.
Uma
instituição de bom nível, com um corpo docente bem preparado e condições de
funcionamento adequadas, por exemplo, que esteja instalada numa região
tradicionalmente carente de ensino, provavelmente apresentará nas primeiras
turmas de formandos desempenho aquém do que seria desejado. Entretanto, essa é
uma situação transitória que será superada. Após um período de tempo mais
longo, se a instituição causar uma interferência no desenvolvimento cultural e
escolar na região, os estudantes passarão a ter um desempenho adequado. Neste
caso, uma nota baixa no ENC não traduz essa situação específica e penaliza um esforço
de melhoria de um quadro educacional.
Por
outro lado, um curso com conceito A no ENC numa região bastante densa e
desenvolvida do País pode adicionar pouco conhecimento aos estudantes. É o que
acontece quando os jovens que têm acesso ao ensino superior possuem,
previamente, uma sólida formação educacional e cultural. Neste caso específico,
a nota A pode refletir muito mais este perfil de entrada do que propriamente
aquilo que o curso proporcionou de ganho em termos de conhecimento.
Uma
outra questão é o boicote, que faz com que excelentes cursos fiquem colocados
entre os piores e, como conseqüência, alguns entre aqueles com desempenho E
sejam guindados ao conceito D, outros que deveriam ter recebido D recebem C, e
assim por diante. Finalmente, uma outra razão que ampliou as dimensões do ENC
foi a enérgica oposição tomada por associações ligadas a avaliações de cursos
em várias áreas do conhecimento, pesquisadores da área educacional e entidades
estudantis e científicas. Isso tudo serviu para chamar a atenção para o ENC,
ofuscando, conseqüentemente, os outros estudos sobre o ensino superior
brasileiro e outras possibilidades de avaliação mais comprometidas com a
realidade nacional e com os anseios da sociedade.
O
programa do Presidente Lula apresentado à sociedade afirmava claramente a
necessidade de rever o Exame, e o Ministério da Educação, coerente com esta
diretriz, tem proposto o seu aperfeiçoamento. Para isso, vamos ouvir pessoas e
associações e estudar os outros mecanismos de avaliação já em uso no Brasil e
aqueles utilizados em outros países.
Não
podemos deixar que a luz do holofote lançada sobre o ENC nos ofusque e nos
impeça de estudar os resultados de todos os processos de avaliação do ensino
superior de forma a diagnosticar seus problemas e apontar possíveis soluções. É
preciso lembrar também que o sistema de avaliação construído durante o governo
FHC tinha uma perspectiva liberalizante para a educação, completamente
diferente da proposta do governo Lula.
Otaviano Helene é presidente do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC).
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