Este é um artigo de Mayla Porto publicado também na Revista ComCiência e bastante atual, já mostrando a necessidades das universidades de inovarem nas suas metodologias de ensino.
Fonte
PORTO, Mayla. Dilemas da universidade pública na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro, n. 39, ComCiência, fev. 2003. Disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/universidades/uni02.shtml. Acesso em: 4 ago. 2004.
Dilemas
da universidade pública na sociedade contemporânea
Questões relacionadas com a autonomia universitária, a privatização e descentralização do ensino, a expansão administrativa com aumento da qualidade e controle dos custos, os baixos salários do corpo docente e as novas pressões trazidas pelo mundo on-line, estão na ordem do dia. Mas um item em particular, tem sido motivo de grande preocupação para os sistemas educacionais: a competitividade. Nesse cenário, pairam dúvidas de como deve ser entendida a produção e a gestão do conhecimento. Formas convencionais de ensino têm entrado
Novos paradigmas pontuam os avanços nessa área.
Modelos deficitários também estão sendo analisados. Um grande debate sobre o
ensino superior e o papel da universidade pública foi desencadeado pela
Conferência Mundial de Educação Superior da Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), realizada em Paris, em outubro de
1998. Desde então, inúmeros fóruns têm procurado identificar os principais
problemas que as instituições educacionais do mundo em desenvolvimento
enfrentam hoje em dia, tendo em vista as mudanças conjunturais produzidas nas
últimas décadas.
As Conferências Ibero-Americanas de Reitores de
Universidades Públicas, iniciadas em 1999, em Santiago do Chile, têm dado
significativa contribuição para esse debate na América Latina. No Acordo de
Santiago, documento final do primeiro Encontro, os reitores resgataram a
definição de universidade pública: o
público é o que pertence a todo o povo; universidade pública é a que pertence à
cidadania e está a serviço do bem comum.
Quatro características definem a universidade
pública, segundo o documento: sua
vinculação: faz parte do Estado ou é pública e autônoma por lei; seu
financiamento: é de responsabilidade do Estado; sua missão: é o seu compromisso
social. Esse compromisso é em realidade um compromisso do Estado com a
sociedade, inscrito na Constituição e cumprido através da universidade. Neste
sentido, a universidade pública é uma instituição que responde a valores
constitucionais e não a políticas contingentes. Daí se origina o conceito de
autonomia, que garante o exercício desses direitos. Por fim, seu conceito de
conhecimento: como um bem social e não um bem privado.
Por isso, os reitores manifestaram a opinião de que
a universidade pública deve responder a todos os desafios da globalização, desenvolvendo além da instrução profissional
uma formação que ajude os estudantes a aprender a pensar criticamente e a
familiarizar-se com sua própria tradição intelectual.
O professor Carlos Antunes, que foi indicado pelo
ministro da Educação, Cristovam Buarque, para assumir a Secretaria do Ensino
Superior do MEC (Sesu), avalia que é
preciso repensar a universidade. Sua estrutura está superada. A sociedade mudou
e a universidade não. A universidade é um espaço complexo de produção de
conhecimento e que irradia esse conhecimento. Mas o conhecimento também mudou.
Hoje, ele é construído na fronteira entre as ciências, de forma
interdisciplinar, e a universidade tem que compreender isso para que ela possa atingir
seus objetivos.
De acordo com o Censo 2000, do Sistema de Avaliação
do Ensino Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), em 30/04/2000, existiam 10.585 cursos de graduação presenciais no país,
oferecidos por 1.180 Instituições de Ensino Superior (IES), nos quais
achavam-se matriculados 2.694.245 alunos. Dessas IES, 176 são públicas (61
federais, 61 estaduais e 54 municipais) e 1004 privadas (85% do total).
Além do estado caótico em que se encontram as
universidades públicas, a ampla diferença de alunos matriculados nas
universidades particulares pode ser explicada também, pelo fato destas
procurarem atender à demanda de profissões que estão sendo mais requisitadas na
atualidade, conseqüentemente, estão sempre abrindo novas vagas para cursos
potencialmente importantes, ampliando assim sua área de atuação. Ou seja, os
dados confirmam a principal vocação das universidades privadas: formar
profissionais para o mercado de trabalho, enquanto nas universidades públicas o
ensino está voltado mais para a formação de docentes e pesquisadores.
A proliferação de cursos MBA (Master in Business
Administration), é bem o espelho das necessidades atuais das empresas para
ter profissionais capacitados para enfrentar os desafios da sociedade
contemporânea. O Brasil é visto hoje como um grande potencial para a educação
executiva, conforme projeções de universidades norte-americanas, que constatam
uma grande procura por seus cursos de MBA internacional por parte de executivos
brasileiros que atuam em empresas multinacionais.
Esse é o caso da Universidade de Pittsburgh e da
Thunderbird. A primeira chegou ao país há três anos trazendo o Katz Graduate
School of Business, um curso que incorpora aspectos do impacto global e da
dimensão humana em seu currículo. Considerada a quinta mais antiga escola de
administração dos Estados Unidos, ela forma em junho de 2003, sua terceira
turma no Brasil.
Outro investimento que algumas empresas têm feito,
para manter seus funcionários em constante formação, são as chamadas
Universidades Cooperativas. Nos Estados Unidos, já são mais de 2000. No Brasil,
somam 20. Apesar do nome universidade,
elas não têm reconhecimento do Ministério da Educação (MEC) como instituições
de ensino superior. Funcionam como cursos de aprimoramento, voltados para as
necessidades e o dia-a-dia das empresas.
Essa opção tem merecido tanta atenção que já ganhou
novos desdobramentos. Em um acordo firmado na última Cúpula Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável, o ministro das Relações Exteriores da Noruega
informou sobre a doação de dois milhões de dólares destinados à criação de uma
nova sede da Universidade das Nações Unidas (UNU), que abrigará a Universidade
Mundial Virtual (UMV). A UMV será implementada conjuntamente entre a UNEP/GRID-Arendal,
a Agder University College e a ONU, que pretendem estabelecer uma
rede internacional de Universidades Corporativas.
A intenção da UMV é ministrar educação para o futuro
comum, proporcionando conhecimentos científicos para apoiar a gestão adequada
do meio ambiente e para ajudar a desenhar as vias nacionais e regionais que
levem ao desenvolvimento sustentável. Os estudos aumentarão a sensibilidade e a
participação das pessoas na busca de soluções para os problemas ambientais e de
desenvolvimento. Os programas dos cursos virtuais serão elaborados por uma rede
global de instituições acadêmicas colaboradoras e os estudos serão
descentralizados, com enfoque nos países em desenvolvimento. Serão
utilizadas informação e tecnologias de comunicação de ponta, a fim de dar
acesso e facilitar uma aprendizagem de qualidade em todas as regiões, com
custos acessíveis.
Seguindo esta linha de reorientar a educação para
promover a capacitação em temas relacionados com o desenvolvimento humano, em
reunião acontecida em 20 de janeiro, o Conselho dos Reitores das Universidades
Brasileiras (CRUB), recebeu a ministra da Assistência e Promoção Social,
Benedita da Silva, que apresentou uma proposta de operacionalizar o Programa
Universidade Cidadã, constituindo um grupo de trabalho integrado por
representantes de cada segmento das universidades, um representante do Fórum de
Extensão, e de um representante do Ministério, que assumirá a coordenação do
GT.
O Presidente do CRUB, reitor Paulo Alcântara Gomes,
aceitou o convite e comprometeu-se a ter uma proposta amadurecida em documento
para lançar, formalmente, o programa Universidade Cidadã, na primeira semana de
abril, por ocasião da próxima reunião plenária do Conselho, a ser realizada em
Florianópolis.
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